quinta-feira, 5 de março de 2015

Porque Krishna se tornou Gauranga Mahaprabhu

Por Sri Srimad Gour Govinda Swami Maharaj

Imagem de capa do cd do grupo tradicional de kirtan que tem como cantor o primo de Srila Goura Govinda Maharaj. Nesse cd uma das faixas canta o mesmo passatempo q será narrado aqui.

Dois tipos de Maya

Dois tipos de Maya estão aqui. Um é Maha-maya, que quer dizer, a energia ilusória, e a outra é Yoga-maya. Yoga significa que lhe dá a oportunidade de ir para Krishna. Isso é Yoga-maya. O que impede, é viyoga-maya ou Maha-maya. Yoga significa união. Viyoga significa separação. Então, há duas mayas.
Viyoga-maya ou Maha-maya está trabalhando no mundo material. Suas atividades são tão maravilhosas. Srila Prabhupada disse: os filósofos saltadores (froggish), argumentadores mundanos, o que eles podem entender – o que falar de Yoga-maya, a energia interna do Senhor, suas atividades são tão incríveis e maravilhosas. As vezes se torna muito difícil até mesmo por parte de Krishna entende-las! O que falar de nós, se até Krishna fica espantado! Então eu devo falar isto.
Radharani é hladini sakti. Ela é Madana-mohana-Mohini, que atrai os sentidos de Madana-Mohan, Krishna. Krishna sempre pensa em Radharani. Ele recebe muito prazer quando se une com Radha, o qual Ele não pode receber em outros lugares. Radharani é esquerdista, ‘vamangi’. Seu humor é humor de esquerda. Candravali é a parte opositora, ‘daksinangi’, de direita. Krishna não obtem muito prazer quando Ele se une com Candravali; nessa hora, Ele também pensa em Radha. Assim, por vezes, Krishna vai para o acampamento de Candravali a fim de elevar o humor esquerdista de Radharani ao ponto mais alto; somente para esse fim, nada mais.

Grande desapontamento

Um dia Srimate Radharani decorou Seu kunja muito bem. Suas asta-sakhis, oito sakhis íntimas estão lá. Lalita, Visakha, Tunga-vidya, etc., elas decoraram o kunja de Radharani com variedades de flores perfumadas, muitas decorações. Krishna virá. Estão todas esperando. Radharani está esperando, esperando ansiosamente para Krishna vir. Vento está soprando, um som é produzido. “Oh, Krishna está vindo!” Então, ela está em ansiedade a cada momento. Mas Krishna não chega.
Elas enviaram uma dyuti, mensageira, “Você vai e vê onde está Krishna!” Então a dyuti saiu e no caminho encontrou Saibya, uma sakhi companheira de Candravali. Saibya contou a ela que Krishna está no kunja de Candravali. Então, a dyuti voltou e relatou isto para Lalita e Visakha. “Krishna está no kunja de Candravali”. Então Lalita ficou muito irritada. Visakha é um pouco mais suave. Lalita é muito difícil. Elas relataram isto a Radharani. Radharani ficou emburrada. Seu humor de esquerda ficou elevado e atingiu o ponto mais alto.
O que diz Srimati Radharani? “Por que Krishna deveria vir até mim? Eu sou a mais infeliz! Tantas gopis estão lá. Candravali e tantas outras estão lá.” Isso é humor de esquerda. Então Radharani diz, “Eu não quero que Krishna venha. Não permita que Ele venha a Meu kunja. A entrada está proibida”. Radha disse isso irritada.

Palavras ásperas

Enquanto isso, Krishna veio, mas no portão Visakha e Lalita pararam Ele. “Não é permitido!” “Saia daqui, você não é digno de confiança” Nossa prana-sakhi, nossa mais querida sakhi decorou esse kunja tão bem, esperando por Você. Onde Você estava?! Porque Você está vindo agora? Saia daqui!” Lalita foi muito dura.
Krishna está agora em um estado de espírito muito humilde. Ele disse, “Eu sou um grande ofensor. Por favor, permita-me ir e pedir desculpas aos pés de Lótus de sua prana-sakhi.” “NÃO! NÃO! Saia daqui. Não é permitido. Admissão proibida.”
Krishna ficou muito desapontado. Ele não conseguia entender o que fazer. Ele foi para as margens do Yamuna. Ele desistiu de Suas vestes e rolou na areia, melancólico, decepcionado, chorando.

Apenas uma esperança

Então Paurnamasi devi, Yoga-maya, veio. Ela sabe tudo e organizava todas as atividades lá, os lilas. Todas as atividades de Purnamasi, Yoga-maya, são tão maravilhosas que algumas vezes até mesmo Krishna não consegue entender.
Então Purnamasi devi disse, “Oh meu querido garoto, porque Você está em tal condição? Eu sei de tudo. Tudo bem! Tudo bem! Eu fiz um arranjo. Eu já enviei Vrinda-devi para tomar as providencias para sua união com Radharani.”
Então Vrinda veio. Krishna estava muito melancólico, chorando, sentado ali, rolando na areia de Yamuna. Vrinda devi pensou, “Oh! Eu sou um instrumento nas mãos de Purnamasi, Yoga-maya. Krishna é lila-maya, que lila maravilhoso Ele manifestou. Então agora Krishna está sentindo muitas dores agudas da separação de Radharani, e Radharai desenvolveu um mau humor que Krishna não sabe como quebrar. Então Paurnamasi está me usando como instrumento. Se eu posso ser um instrumento na união de Radha e Krishna, então acho que minha vida será bem sucedida.”
Ela pensou assim consigo, e, em seguida, aproximando-se de Krishna, ela disse, “Eu sou Vrinda. Eu vim aqui sob a direção de Paurnamasi. Eu entendo que não há meios de como Você será capaz de encontrar Radharani e consolá-lá, quebrar Seu mau humor. Não há outro meio, a não ser uma coisa. Se Você fizer o que eu digo, então há esperança.”
Krishna diz, “Tudo bem. Eu devo fazer o que você diz. Eu não consigo entender o que fazer. Estou perplexo, não consigo pensar no que fazer.”
Vrinda diz, “Tudo bem. Você deve deixar esta gopa-vesa (vestido de vaqueiro). Você deve deixar esta coisa. São tão agradáveis os cabelos encaracolados em Sua cabeça – mas você tem que raspar sua cabeça. Sim. E deixar a flauta. Deixe sua pena de pavão. E não permaneça na postura dobrada em três, tri-bhanga. Deixe todas estas coisas e este corpo enegrecido. Não! Você tem que deixar todas essas coisas. Você tem que raspar Sua cabeça e Você tem que se tornar sannyasi e desistir de todas as coisas. Eu vou te ensinar uma música. Você tem que cantar esta música. E tomar um khanjani, um instrumento musical. Você tem que tocar e cantar essa canção na forma de sannyasi, então há esperança.”
Quando Vrinda disse isso, imediatamente aquela forma apareceu. Krishna tornou-Se aquela forma de sannyasi – cabeça raspada, e Sua aparência é de ouro derretido. Nenhuma pena de pavão, sem flauta, sem a forma curvada em três partes. Na forma de um yogi, sannyasi, Ele imediatamente apareceu lá. Então Vrinda devi cantou uma canção, que é glorificação a Radha,

srimate radhe bada abhimani
bamya bhave siromani-syama sari ange
achadana tava tapta-kancana varana
eto dina chile pagalani raye
kanu preme prana sampi
sarve rupe guneogo gandharvike
kanu mana kari curi aji radha prema
bhika mage kanu phere dware dware hai

“Oh Srimati Radharani, você desenvolveu um humor irado. Você é a joia da coroa do humor esquerdista. Seu corpo inteiro é coberto com um sari azulado. A tez de Seu corpo é de ouro derretido. Até agora Radharani estava louca por Kanu (Krishna) prema. Ela estava roubando a mente de Krishna. O Gandarvike, Você estava roubando a mente de Kanu, Krishna, encantando Ele com Sua linda forma e qualidades. Mas hoje, Kanu, Krishna, está indo de porta em porta pedindo Radha-prema, Radha-prema, Radha-prema.”

Sannyasi Thakura

Então Krishna cantou essa canção. Então ele foi para o kunja de Radharai. No portão Ele encontrou Lalita e Visakha. Krishna começou a cantar essa agradável canção glorificando Radharani. Cantando, “Kanu é um mendigo hoje, passando de porta em porta pedindo Radha-prema, Radha-prema, Radha-prema.”
Vendo um sannyasi cantando essa agradável música, Lalita e Visakha ficaram muito felizes.
Visakha disse: “Sannyasi Thakura, esta canção que Você está cantando é muito boa. Quem lhe ensinou esta música?”

Krishna respondeu: “Meu Guru é Gandharvika (Radharani).”

“Oh, Seu Guru é Gandharvika?”

“Oh sim, Meu Guru me ensinou esta música muito boa.”

“Por que você veio aqui, o que você quer?”

O sannyasi disse, “Eu não tenho nada, eu sou um mendigo. Eu vim aqui pra receber Radha-prema, Radha-prema. Eu sou um prema-bhikhari. Eu sou um mendigo de prema.”

“Tudo bem, ó sannyasi Thakura, minha prana-sakhi está muito, muito angustiada. Ela está sempe chorando, em condições de morte. Seu destino é muito, muito ruim, infeliz. Você sabe calcular o destino, sannyasi? Você pode calcular vendo as linhas nas mãos de minha sakhi?”

“Oh sim, eu sei.”

“Você sabe? Quem te ensinou?”

“Oh, meu Guru me ensinou todas as essas coisas – Gandharvika.”

“Você entrará no kunja para calcular o destino de nossa prana-sakhi? Ela está muito angustiada.”

“Oh sim, eu posso calcular.”

Krishna quer isto (este encontro), então Ele disse, “Sim, eu posso ir.”

Então nesse meio tempo, Lalita foi até Radharani e disse que um sannyasi thakura chegou. “Ele está cantando uma bela canção. Ele sabe como calcular Seu destino.”
Então Visakha leva o sannyasi para o kunja. Ela pediu a Krishna, “Você, por favor, cantará novamente a bela canção que estava cantando antes?”
Então Krishna cantou a canção em glorificação a Radha. “Hoje Kanu é um bhikari, Ele é um mendigo, movendo de porta em porta pedindo Radha-prema.” Quando Radharani ouvi essa última linha, ela disse:

aslisya va pada-ratam pinastu mam
adarsanan marma-hatam karotu va
yatha tatha va vidadhatu lampato
mat-prana-nathas tu sa eva naparah

Radharani disse o último verso do Siksastskam. “Aquele pervertido, lampatah, tudo que Ele gosta Ele pode fazer. Ele pode fazer. Ele pode me abraçar ou me chutar, ou esmagar-me com Seus pés ou colocar-me nessa condição de dores agudas da separação. Tão dolorosa condição, não me dando darsana (Sua visão). O que quer que Ele goste ele pode fazer, aquele pervertido. Mas Ele é o Senhor do Meu coração, mais ninguém.”
Então Lalita disse: “Tenha paciência, ó sakhi. Chegou um sannyasi thakura que irá calcular Sua fortuna. Não seja impaciente.”
Então Lalita deixou o sannyasi no kunja e providenciou um assento na varanda do quarto de Radharani. Então Lalita trouxe Radharani para a varanda. Então Radharani veio, colocando um véu sobre a cabeça. Por quê? Porque Radharani só ve Krishna. Ela nunca vê qualquer outro homem.  Colocando o véu, Radharani veio e sentou-se perto do sannyasi thakura. Lalita deu a mão esquerda de Radha ao sannyasi thakura.

“Por favor, calcule a fortuna de nossa prana-sakhi.”

Krishna disse, “Eu sou um sannyasi, Eu não posso  tocar a mão de sua sakhi.”

“Como você pode calcular, então?”

“Não, eu posso calcular vendo as linhas na testa Dela. Eu sei como fazê-lo.”

“Mas minha sakhi não olha para qualquer homem, apenas Krishna. Não. Ela é muito rigorosa a esse respeito. Ela nunca olha para qualquer homem além de Krishna.”

“Are-baba! Eu sou um dândi-sannyasi. Não há nenhum mal. Eu não tenho desejos. Eu abandonei tudo. Eu sou um sannyasi. Eu sou apenas um mendigo. Implorando amor, eu sou prema-bhikari. Eu abandonei tudo. Eu não tenho desejos. Se a sua sakhi levanta o véu, não há mal algum. Então eu posso calcular. Eu sou um sannyasi, não sou um homem comum.”

Lalita devi removeu o véu. Então imediatamente a forma de Krishna veio, tri-bhanga-lalita. A forma de sannyasi desapareceu. Agora tri-bhanga, curvado em três partes, pena de pavão e flauta. Então o olhar de Krishna e o olhar de Radha se uniram. Seu mau humor foi embora.
Então Visakha disse: “Tão incrível, o que é isso?”

pahile dekhilun tomara sannyasi-svarrupa ebe
toma dekhi muni syama-gopa-rupa
tomara sammukhe dekhi kancana-pancalika
tanra gaura-kantye tomara sarva anga Dhaka
tahate prakata dekhon sa-vamsi vadana
nana bhave cancala tahe kamala-nayana

“No começo eu vi Você aparecer como um sannyasi, mas agora eu estou vendo Você como Syamasundara, o menino vaqueiro. Eu vi Você aparecer como um boneco de ouro, e Seu corpo inteiro coberto por brilho dourado. Agora vejo Você segurando uma flauta em Sua boca, e Seus olhos de Lótus estão se movendo muito inquietamente devido a vários êxtases.”
(Sri Caitanya.caritamrta, Madhya 8.268-270)

Krishna-lila, Gaura-lila

Isso é o que Ramananda Raya viu. Ramananda Raya é Visakha sakhi na lila de Mahaprabhu. Mahaprabhu mostrou essa forma para Ramananda. Tão maravilhoso! Então, é assim que Krishna tem de chorar e se tornar sannyasi pedindo por Radha-prema. Radharani estava chorando e Visakha declarou, “Um dia Você vai ter que chorar assim!” E assim, Ele está chorando na forma de Mahaprabhu.

sri-radhayah pranaya-mahima kidrso vanayaiva
svadyo yenabhuta-madhurima kidrso va madiyah
saukhyam casya mad-anubhavatah kidrsam veti lobhat
tad-bhavadhyah samajani sai-garbha-sinadau harinduh
(Sri Caitanya caritamrta, Adi 1.6)

O que é o amor de Radharani? Agora Krishna é um mendigo disto. Radha-prema-bhikari. Ele veio na forma de um sannyasi, como um mendigo, implorando Radha-prema. Em uma forma completamente diferente – não está curvado em três partes, sem cabelo encaracolado – cabeça raspada. Agora Sua vestimenta amarela é da cor açafrão e Ele está implorando por Radha-prema. Isso é Radha-bhava. Ele veio na forma de sannyasi, caso contrário, Ele não pode pagar a dívida. Krishna tornou-se individado. Desta forma, Krishna pagou a dívida. Então a desavença de Radharani desapareceu. É por isso que Krishna se tornou sannyasi, Ele se tornou Mahaprabhu.
Ele (Krishna) veio para entender essas três coisas: “O que é o amor de Radharani? O que é Minha beleza que Radharani aprecia? E que felicidade e prazer Radharani saboreia Minha beleza, como posso saber?” Para cumprir estes três tipos de cobiça  e desejos, Krishna apareceu como Mahaprabhu, do ventre de Sacimata, sai garbha-sindau harinduh. Para entender essas três coisas, é por isso que Ele se tornou sannyasi. Isso é tão maravilhoso – Krishna ficou espantado. Esta é a atividade de Yoga-maya, Paurnamasi.  Oh, tão maravilhoso que mesmo Krishna não consegue entender, então como podem os outros entenderem?

Tradução: Indumati Devi Dasi
Revisão: Ramananda Das

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